CANTO DO HOMEM NOVO

J. Herculano Pires

Pisarei de cabeça erguida no limiar do amanhã.

Desvencilhei-me do passado. Meu compromisso é o futuro.

Rasguei a carta fajuta da moral hipócrita.

Quebrei os ídolos de barro,

Esmaguei sob os pés os dogmas da crença e da descrença.

Não busco a verdade nos mitos: encontrei-a em mim mesmo.

 

Bebo o vinho da vida sem pedir licença.

Lavo a face da Terra com a água da verdade.

O fingimento, a mentira, a adulação, a perfídia

Provocam-me náuseas

Quero o mundo como ele é, a vida como ela é,

Quero olhar para a face de Deus

Como a águia olha para o Sol.

Ninguém é responsável por mim, ninguém me salva.

Deus emancipou-me na mina liberdade

E os temores do passado eu mesmo os sepultei.

Não é orgulho saber que sou livre

E posso conquistar o Cosmos.

Minha humildade consiste em reconhecer os meu limites.

Não nasci para ser escravo: a vida é liberdade.

Jogo no presente tudo o que possuo

E ganho o futuro.

 

Descobri que não sou frágil e não morro: sou imortal,

Meu avô falhou, meu pai falhou, eu mesmo falhei.

Porque temíamos avida. mas agora amo a vida

E sei que viverei através dos milênios.

Meus limites se alargam na proporção em que avanço.

A razão é a minha bússola, a Verdade o meu norte.

Construirei o meu mundo, o mundo do meu tempo,

E o tempo renovado renovará o mundo.

Fui velho na juventude, sou jovem na velhice.

Que importa se o corpo envelheceu? Ninguém deterá os meus passos

E farei da morte um novo salto para mais longe.

Saltarei feliz sobre as galáxias do amanhã.

 

Não troquei o confessor  pelo psicanalista,

Nem a  moral pela libertinagem.

Tenho um a estrela na testa e sou a vestal do meu próprio fogo.

Quem apagará a labareda das minhas certezas?

Quem guiará os meus passos além da minha consciência?

Aos que me odeiam respondo com uma palavra: amor!

Aos que me acusam respondo com a piedade.

Aos que tentam  escravizar-me, ajudo-os a se libertar.

Minha consciência é o tribunal de Deus. Só Ele me julga.

Como posso pedir o perdão daqueles que eram mais do que eu?

Como posso dirigir-me a Deus através dos agentes comerciais

Da sua misericórdia que ninguém pode vender?

 

Estou diante do mundo e sei que o mundo é a minha oportunidade.

Deus não esta no Céu nem o Diabo no Inferno.

Mas eu – homem – estou na Terra e a Terra é dos homens.

Temos de transformar a Terra – nós , os homens – no Reino de Deus

E onde estão as leis de deste Reino, senão em nossa consciência?

Se Deus está em mim, como posso adorá-lo fora? E como posso negá-lo?

Como posso tremer a lembrar-me de Deus, se Ele é a minha consciências?

Basta voltar-me para mim mesmo para ver a sua face.

 

Os anos de terror já passaram. A ignorância morreu.

A rosa da verdade abriu-se em meu coração.

Não choro, não gemo, não me apavoro.

Confio.

A vida cresce em mim e nada pode extingui-la

Não me interessam os mistérios ocultos, os poderes secretos.

Todo o poder me foi dado. E ninguém me pode arrebatá-lo

Contarei os átomos e as estrelas,

Os grãos de areia e as galáxias,

E multiplicarei em minhas mãos

As rosas da verdade.

 

Fonte:

 J. Herculano Pires – AGONIA DAS RELIGIÕES – 10ª, edição – Editora PAIDÉIA

Fundação Maria Virginia e J. Herculano Pires

www.fundacaoherculanopires.org.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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