O ESPIRITISMO É RELIGIÃO?

PROBLEMAS RELIGIOSOS

Cap.: IX – Livro: O CENTRO ESPÍRITA  Autor:  J. Herculano Pires

Ouve-se frequentemente a pergunta: “O Espiritismo é religião?” E muitas vezes os espíritas não sabem responde-la.

A confusão a respeito provém das campanhas religiosas contra o Espiritismo. As Igrejas Cristãs, descendentes direitas da Igreja Judaica, definem-se como religiosas nos termos tradicionais do formalismo de suas organizações e do culto exterior calcado nos vários cultos dessa natureza que lhes serviram de modelo, em primeiro lugar o judeu e depois os mitológicos, com substanciais influenciais de Ordens Ocultas como a Maçonaria. As vestes
sacerdotais, os paramentos do culto, os instrumentos sagrados — nada disso é de
origem cristã, pois o Cristo não se interessou pelos cultos formais e só ensinou o cultivo interior do espírito. Algumas expressões do Evangelho, alguns gestos e atitudes do Cristo deram motivo à adaptação de ritos e sacramentos judeus ou pagãos pelos cristãos. Como o Espiritismo, fiel ao espírito da renovação cristã, não aceitou o culto exterior, a organização clerical profissional, nem rituais, as Igrejas Cristãs fundaram-se nisso para declarar que o Espiritismo não era religião. Ligadas aos Estados, elas tiveram facilidade de influir nos organismos estatais para fazerem prevalecer a sua tese. Até hoje, no Brasil e em muitos países certos organismos estatais, principalmente quando influenciados pela Igreja, negam ao Espiritismo o seu caráter de religião. Mas os espíritas precisam saber que o Espiritismo é religião e o Centro Espírita, geralmente religioso, deve insistir no esclarecimento desse problema em suas reuniões. Não se trata de querer-se obter regalias governamentais para os Centros, mas de se colocar a verdade do fato. E esse fato é aquele que Kardec esclareceu com segurança desde o início do movimento espírita: o Espiritismo é a Ciência do Espírito e de suas relações com os homens; dessa Ciência resulta uma Filosofia e dessa Filosofia as consequências religiosas do Espiritismo, que constituem a religião Espírita.
Kardec, como Jesus, não era clérigo de nenhuma religião. Foi pedagogo, cientista e filósofo, diretor de estudos da Universidade de França. Ao enfrentar o problema das manifestações espíritas, que no seu tempo agitavam a América e a Europa, encarou-as
como cientista.

Observou e pesquisou os fenômenos espíritas, como os cientistas observavam e pesquisavam os fenômenos físicos, descobrindo-lhes as causas, identificando a sua origem, a natureza e descobrindo as leis que os regem. Desse trabalho minucioso e aprofundado, no confronto de hipótese diversas, nasceu no mundo a Ciência Espírita. Grandes nomes das Ciências no século passado e neste século continuaram na linha de pesquisa de Kardec e confirmaram a validade das suas descobertas. Surgiram depois as ciências correlatas, entre as quais se destacaram a Metapsíquica de Richet, a Psicobiofísica de Notzing e por fim, a
Parapsicologia atual, todas elas filhas do Espiritismo. A Parapsicologia foi a derradeira e decisiva confirmação do acerto de Kardec e com ela, sob a designação de fenômenos paranormais, os fenômenos espíritas integraram-se nos quadros científicos.


A Ciência Espírita revelou a face oculta da realidade que conhecemos e em
que vivemos. Levantou as cortinas que ocultam os bastidores do palco em que
representamos os nossos papéis e duplicou os conhecimentos humanos, até então
restritos ao plano exterior das manifestações da vida. Cada avanço significativo das Ciências no conhecimento do mundo transforma a nossa concepção da vida e do mundo, gerando uma nova Filosofia e uma nova moral. E a Moral, por sua vez, determinando novas regras de comportamento do homem no mundo, ante os mistérios da vida e da morte, gera uma nova posição religiosa. A Religião Espírita é a consequência natural da
descoberta científica da sobrevivência e continuidade do homem após a morte.


Cientificamente não se pode provar a imortalidade, pois não dispomos de recursos
nem de tempo para constatar objetivamente que o homem é imortal em sua essência,
mas testemunho dos Espíritos Superiores e as consequências lógicas da sobrevivência do homem após a morte nos levam fatalmente à ilação da imortalidade, que o Espiritismo aceitou em seu campo religioso, bem como em sua Filosofia.


A Religião Espírita se funda nas provas científicas da sobrevivência e da comunicabilidade dos Espíritos com os homens através dos fenômenos paranormais (hoje comprovados cientificamente pela Parapsicologia), na existência de Deus como causa inteligente e primária de todas as coisas e de todos os que seres e nas relações possíveis entre o Homem e Deus através do sentimento religioso inato no homem, na forma de uma lei de adoração e reverência aos poderes superiores que regem o Cosmos em sua plenitude.


Paralelamente ao desenvolvimento das pesquisas espíritas, as pesquisa sociológicas, antropológicas e filosóficas sobre a Religião levaram a cultura atual a rejeitar o antigo conceito de Religião como organismo social dotado de sistemas tradicionais. A existência de religiões desprovidas desses requisitos normais, a começar da simplicidade das religiões primitivas, e o aprofundamento dos estudos a respeito mostraram que o fenômeno religioso independe dessas condições artificiais.


Com a tese de Henry Bergson sobre as origens da Moral e da Religião o problema se
esclareceu, dando razão ao anúncio de Jesus e às profecias bíblicas sobre a
interpretação em espírito e verdade que não se entrosava nos modelos. Bergson
estabeleceu a distinção entre as religiões estáticas do formalismo social e a religião
dinâmica e independente que se sobrepõe a todo formalismo. A Religião Espírita
apareceu então, no quadro das pesquisas, como o modelo ideal das religiões do
futuro. Firmada apenas no sentimento religioso, na lei de adoração da tese espírita, a
nova Religião apresentava-se liberta dos aparatos do culto exterior, das pesadas e
custosas organizações clericais hierárquicas e da suntuosidade arrogante dos
templos. A Religião se libertava dos interesses humanos, das ambições de poder e
supremacia dos clérigos e voltava-se para Deus.


O problema da Revelação, que caracteriza as Religiões Reveladas, orgulhosas de sua origem divina especial, foi colocado por Kardec no campo das manifestações espíritas, ou seja, da fenomenologia paranormal, e sujeita ao controle dos homens. A Religião Espírita é também revelada, mas através de uma conjugação humano divina.
Os Espíritos Superiores fizeram revelações a Kardec, mas ele não as considerou válidas, reais, enquanto não pôde comprovar sua veracidade através das pesquisas. Kardec formulou a tese da dupla revelação: a que é dada por entidades espirituais ou por homens dotados de poderes paranormais e a que é feita pelos cientistas que investigam a Natureza, descobrem os seus segredos e os revelam no plano científico. É dessa dupla revelação rejeitada pelos místicos e os supersticiosos, que se constitui a Religião Espírita, que não se acomoda na fé cega mas exige a fé raciocinada, sancionada pelos fatos e pela razão esclarecida. Era o fim das fábulas e das superstições, o encontro da razão humana com a Verdade Divina. A importância desse acontecimento histórico foi negligenciada pelos comodistas da tradição supersticiosa e o Espiritismo foi acusado de reviver no mundo, em plena Era Científica, as mais baixas superstições do passado longínquo. Kardec esmagava a superstição com o poder, perquiridor da razão, e os místicos de braços dados com positivistas e materialistas o condenavam como supersticioso. Mas, apesar de toda
essa injustiça e de todas as campanhas difamatórias desencadeadas no mundo contra
o Espiritismo, o tempo se incumbiu de dar ao seu dono. Hoje, as pessoas realmente
cultas e sinceras, estudiosas e livres de preconceitos, sabem que o Espiritismo dos
simples é apenas um reflexo do Espiritismo dos sábios, que os próprios sábios
materialistas são obrigados a reconhecer como válido. Só criaturas sistemáticas,
retardatárias, preconceituosas ou sectárias, incapazes de abrir a mente fechada nas
ideias feitas para a compreensão da realidade, continuam a negar a verdade espírita e
ao mesmo tempo a sofrer sob o guante invisível dos espíritos obsessores. Porque a
seita religiosa fechada é irmã da seita científica amarrada aos seus preconceitos. Um
cientista apegado a preconceito é a própria negação da Ciência. Mas, estabelecida a Religião Espírita em sua plena liberdade de pensamento, surge no meio dos seus adeptos voluntários o problema dos resíduos do passado. Criaturas que se tornaram espíritas através de experiências paranormais inesperadas, não conseguem vencer as barreiras dos temores introjetados em seu inconsciente e começam a misturar suas velhas superstições aos conhecimentos novos que recebe. Não se conformam com a liberdade ampla do Espiritismo. Sentem a falta da canga ao pescoço calejado e procuram transformar os dirigentes de Centros em sacerdotes de um novo tipo e caem de joelhos diante de pobres médiuns falíveis, na esperança de graças impossíveis. Forma-se a farândola dos crentes
ansiosos por benefícios especiais. E surgem questões de família e tradição, exigindo
batizados, rituais, casamentos suntuosos, missas e promessas aos santos.

O espiritismo dispensa todas as encenações rituais e todas as quinquilharias da
devoção formal. Para todas as encenações e todos os sacramentos o Espiritismo só
tem um substitutivo: a prece espontânea e sincera , gratuita , que parte diretamente
do coração da criatura para a Mente Suprema de Deus. No Centro Espírita esse
problema deve ser objeto de estudos constantes, de esclarecimento seguro, para que
a propagação irrefreável da Doutrina não se faça manchada pelos resíduos de um
passado de heresias e fogueiras assassinas em nome de Deus.

Embora não ferido susceptibilidades, os dirigentes do Centro devem manter em pauta os esclarecimentos necessários, mostrando que, no plano do espírito só os elementos espirituais têm valor. Não se pode curar obsessões com sal grosso, folhas de arruda, incenso ou explosão de pólvora, nem com medalhas, crucifixos ou água benta. A obsessão é um processo inteligente desencadeado por espíritos – o que vale dizer por inteligências extra físicas que não são atingidas por essas coisas. Pois eles vivem no plano espiritual, não no material e conhecem o problema da comunicação mediúnica e do envolvimento fluídico.

Só podemos afastar uma entidade obsessiva pela persuasão e a prece, procurando esclarecê-la ao invés de dar-lhe ordens que só que fazem irritá-la. Os Centros Espíritas que aceitam os métodos antiquados dos antigos esconjuros e exorcismos revelam, a mais grosseira ignorância da Doutrina Espírita que é essencialmente racional. A Razão não pertence à matéria, mas ao espírito. Os fracassos das práticas de exorcismo se comprovam no mundo inteiro através de todas as fases históricas. Enquanto os exorcistas ou exorcizadores gastam energias e perdem tempo, com prejuízo de sua própria saúde e do desgaste físico dos obsedados, chegando, não raro, a resultados tristemente negativos, a doutrinação espírita revela por toda parte a vantagem da ação persuasiva e inteligente sobre os agressores inteligentes. O valor da prece, mental ou falada, revela-se
sempre eficaz, pois a vibração espiritual de uma prece sincera atinge o obsessor de maneira envolvente, chamando-o à razão.
No tocante aos problemas da prece, convém lembrar, como ensina Kardec,
que as mais eficazes são as preces espontâneas, não formais e decoradas, mas
pronunciadas com sentimento e desejo real, consciente, de beneficiar tanto à vítima
quanto ao algoz. Entre as preces formais, a do Pai Nosso se destaca por uma
condição especial. Integrado na tradição cristã há dois milênios, essa prece está
fixada na mente das gerações e goza o prestígio de ter sido ensinada pelo Cristo. Seu
prestígio e sua capacidade de despertar emoções religiosas nos espíritos comprova-se
diariamente no mundo. É por isso que ela é empregada sistematicamente na
abertura das sessões espíritas. É um tabu, dizem os céticos, e muitos espíritas, com
pretensões racionais agudas pretendem eliminá-la. É um erro grave, pois em toda parte se constatou e se constata, no meio espírita, a sua eficácia. Não é difícil entendermos isso. O Pai Nosso não contém nenhum elemento mágico, mas desde a infância as criaturas nascidas no meio cristão aprenderam a dizê-la e a respeitá-la.


Ela foi introjetada na consciência das gerações através dos séculos e dos milênios. Constitui-se numa forma oral e mental carregada de energias espirituais.
Tornou-se, no plano religioso, o que é o soneto na poesia ocidental, uma forma oral
e metal carregada de poder emocional.

Os espíritos perturbadores, que têm consciência de sua posição negativa e criminosa — pois todos a têm — são tocados no íntimo, em sua sensibilidade profunda e em sua afetividade quando ouvem essa prece, principalmente se pronunciada por pessoas que sentem a sua mensagem e conhecem as razões da sua eficácia. Ela soa como um apelido da infância, de juventude emotiva, da vida passada que desencadeia antigas saudades nos homens e nos espíritos.

A figura de Jesus, a força ôntica da palavra Pai, que vibra como um apelo a Deus e uma evocação do seu poder supremo e ao mesmo tempo misericordioso, vibra como a primeira nota vigorosa e amorosa de uma invocação ao Céu, as regiões superiores que desejam atingir, por mais infeliz que seja a sua situação atual. Despertam-se na consciência e na emotividade do espírito as ternas lembranças dos entes queridos, do amor que experimentou na vida familiar terrena, dos momentos de felicidade e alegria que gozou entre criaturas queridas. São esses os toques profundos que o Pai Nosso produz nos corações fluídicos ou encarnados, como uma canção de outros tempos, antiga que, na ternura de suas notas e de sua harmonia, nos faz voltar às oportunidades pedidas.


Criaturas pretensamente racionais analisam e criticam o Pai Nosso, apontando possíveis erros e absurdos no seu texto mais usado e longo, que é o do Evangelho de João. Entidades maldosas costumam soprar a essas criaturas ideias negativas, tentando desviá-las da prática dessa prece. Bastaria esse fato para nos confirmar o valor do Pai Nosso. Os Evangelhos registram formas diferentes da prece de Jesus. A que permaneceu na tradição foi a mais completa, vítima das críticas referidas. Tentemos analisá-la rapidamente em todos os seus termos, desfazendo essas críticas levianas:


PAI — Com essa palavra inicial Jesus deu um golpe vibrante na antiga
concepção politeísta de Deus e na idéia bíblica, bem judaica, da posição exclusivista
de Deus e na sua condição mitológica de guerreiro, o velho Deus dos Exércitos.
NOSSO — Nesta profunda palavra temos a universalização de Deus como
Pai de toda a Humanidade. Ela destrói a velha e absurda idéia dos deuses de cada
povo, em luta uns com os outros nas guerras dos povos.
QUE ESTAIS NO CÉU — Afirmação da presença de Deus no infinito,
acima de todos os divisionismos humanos, pois o Céu não é um lugar determinado,
mas a totalidade cósmica. Deus no Céu cobre na sua misericórdia toda a Terra e
todos os mundos, todas as constelações do Infinito.
SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME — Que seja reconhecido o nome
de Deus como santo por todos os seres, anjos, espíritos e homens, que santificarão o
nome de Deus em si mesmos, na sua consciência.
ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU — Especificação clara do
reconhecimento universal do nome de Deus.
VENHA A NÓS O VOSSO REINO — Que o Reino de Deus, ideal
superior de Justiça e de Paz perfeita, venha para nós todos.
SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO
CÉU — Que os homens, os espíritos e os anjos cumpram no Céu e na Terra, por
toda parte, a vontade suprema de Deus, revelando-se
aqui o princípio da comunhão constante e perfeita entre o mundo espiritual e o mundo terreno.
O PÃO NOSSO DE CADA DIA DAINOS HOJE — O pão simboliza o alimento geral de todos os seres — o espiritual e o material — que os povos daquele
tempo repartiam nas mesas simbólicas das cerimônias religiosas. Jesus mesmo
repartiu o pão com os discípulos na Ceia da Páscoa, e foi no partir do pão que os
discípulos o reconheceram, depois da ressurreição, na estrada de Emaús. Esse
alimento essencial é pedido a Deus, que é o Pai, para que não nos falte.
PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS COMO AS PERDOAMOS AOS
NOSSOS INIMIGOS — Os inimigos são os que nos perseguem e caluniam.
Alimentados pelo pão espiritual podemos perdoá-los, e só assim nos fazemos dignos
do perdão de Deus, que diariamente ofendemos em nossa ignorância. É o princípio
da fraternidade em Deus e por Deus.
NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO — Somos frágeis em nossa ignorância e alimentamos desejos e ambições. A tentação está em nós mesmo, mas
Deus pode alimentar-nos diariamente o espírito com os verdadeiros anseios da nossa
destinação, para não cairmos no torvelinho dos nossos instintos inferiores.
MAS LIVRAINOS DO MAL PARA SEMPRE — Súplica a Deus para
nos despertar a consciência nas horas difíceis de cada dia.
POIS VOSSO É O REINO, O PODER E A GLÓRIA PARA TODO O SEMPRE — O Reino que buscamos é o de Deus, não o dos homens. O poder é de
Deus e não dos espíritos inferiores, a glória só a Deus pertence e só Ele nos pode
glorificar. Saudação que só aparece no Evangelho de João, como justificação final
de toda a prece.

O Pai Nosso é uma prece sintética, modelo dado por Jesus aos seus discípulos, para que nela encontrem, diariamente, a síntese final dos seus ensinos. A dinâmica dessa síntese desperta a memória dos homens e das entidades espirituais para fé em Deus, a esperança em nossa evolução espiritual e a confiança no poder absoluto e na misericórdia d’Aquele que nos arranca do limo da Terra para as ascensões da evolução universal. Há pessoas que discordam da prece do Pai Nosso nas sessões espíritas, alegando que se trata de uma oração católica. Jesus nasceu no Judaísmo, recebeu a benção da virilidade no Templo, aos 13 anos, como todos os meninos judeus da sua idade, cresceu e viveu como judeu até o momento em que iniciou a sua pregação própria, da qual nasceria o Cristianismo, porque os seus discípulos e apóstolos o chamavam de Cristo. Ele ensinou a prece do Pai Nosso quando andava pregando na Palestina, muito antes que a sua doutrina chegasse a Roma e fosse transformada num vasto sincretismo religioso do qual surgiria a Igreja Romana. O Pai Nosso virou Padre Nosso em Roma e só neste século voltou à designação primitiva, dada pelos cristãos palestinos que não falavam latim. Não há razão nenhuma para se considerar
essa prece como católica. Ela é uma prece cristã pura, dotada de todas as características do pensamento superior de Jesus, que sempre pairou acima dos divisionismos sectários. Se os Evangelhos apresentam o Pai Nosso em formas diferentes, isso acontece pelo simples fato de que cada evangelista redigiu os seus relatos em lugares e épocas diferentes, usando as lembranças e as anotações que possuíam. João, cujo Evangelho foi o último a ser elaborado, conseguiu reunir maiores elementos para dar a prece completa, segundo era pronunciada pelos cristãos primitivos. Como assinalou Renan, e foi confirmado nos séculos seguintes pelos pesquisadores universitários das origens do Cristianismo, as informações de que os evangelistas dispunham, procediam dos próprios círculos da intimidade do
Mestre, guardando a autenticidade das suas expressões. A insistência da Igreja Católica em manter a expressão latina Padre (Pater ) no nome da prece, lançou nos países de língua latina, como Portugal e o nosso, a falsa sugestão de uma ligação real entre a Igreja (cujos sacerdotes são chamados padres), o que foi duramente contestado pelas Igrejas da Reforma Protestante. O emprego do Pai Nosso nas reuniões espíritas é perfeitamente válido, tanto em face das características inegáveis de Renascimento Cristão da Doutrina
Espírita, tanto em seu desenvolvimento filosófico, quanto em suas atividades práticas. A alegação de que o Espiritismo mistura Cristianismo com religiões primitivas é simplesmente uma impostura, diante dos estudos aprofundados sobre a formação do sincretismo católico africano de que o Espiritismo não participou.

 

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